Hoje meu pai me contou um caso que me fez respirar fundo e pensar que eu não estive sozinha com esse pensamento, na infância, devo dizer. Diz meu pai que estava andando na rua com meu sobrinho de quatro anos e escutou dele: "Nonno, minha sombra está atrás de mim".
Lembram-se de que nos desenhos, Peter Pan queria aprisionar sua sombra? Pois é, quando pequena eu também era implicada com ela. Afinal, dependendo da posição do sol, ela era gigante, minúscula, magrinha ou gorducha, e pior, em dias sombrios, ela não estava por lá, porque as nuvens escondiam o sol.
Para complicar só mais um pouco minha implicância com o reflexo indesejado que insistia em me seguir, surgiu a bendita Física. Desculpem-me os que amam essa matéria e acreditam que é a mais linda do mundo. Que bom que vocês existem, porque se dependesse de mim... Mas bem, lá vinha o professor tentando fazer com que 70% da turma, que sentia por sua matéria o mesmo que eu, fizesse experiências com sombras geométricas, calculando áreas, ângulos e sei lá mais o quê...
Tenho sim minha imagem numa praça com meu pai medindo minha sombra com poste, com lâmpada e faz isso faz aquilo e nem me lembro mais o objetivo. No entanto, só digo que meu sobrinho está certo, em dias ensolarados, minha sombra sempre anda atrás de mim.
Virgínia Pellegrinelli
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