Meu pai é veterinário e quando era pequena ele atendia em um consultório cuja entrada era a mesma da nossa casa. Era uma salinha que futuramente seria povoada por uma criação de canários. Eu era e sou ainda muito ligada a meu pai. Juntando ao fato que gostava de ver sangue. Simplesmente me intitulei secretária dele.
O meu melhor momento era ajudar a cortar os rabinhos de cachorrinhos. Afinal, eram filhotes e geralmente os donos não ficavam para fiscalizar. Então por isso eu podia segurar o bichano enquanto meu pai fazia o serviço e depois ficava brincando com a turminha toda.
No entanto, o momento mais travesso da minha infância foi quando pedi para assistir a uma operação. Eu não me lembro de quantos anos tinha mas era ingênua demais para não entender até que ponto poderia atrapalha o profissional. Meu pai estava concentrado no corte, com aquele sangue todo, e começou a sentir uma cabeça encostando na sua. Ele pensou ser o dono do cachorro e não disse nada até que a cabeça começou a empurrá-lo e a atrapalhá-lo. Ao ver que quem o incomodava era eu alegando que queria ver direito, ele teve que me chamar atenção e perdi minha boa visão do acontecimento.
Um tempo depois, já no vestibular, quase escolhi o curso de Medicina Veterinária, porém eu me imaginei não conseguindo salvar a vida de um animal e resolvi ir para as belas Letras. Ainda sinto falta do sangue mas psicologicamente não me arrependo.
Virgínia Pellegrinelli
0 comentários:
Postar um comentário